Na última
Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de 30 de
abril a 9 de maio, os Bispos aprovaram a mensagem “Pensando o Brasil: Desafios
diante das eleições 2014”. Neste mês, reproduzo, neste espaço, alguns pontos
desta mensagem (números: 1, 6, 7, 8, 29).
“A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) entende que é responsabilidade
de todo cidadão, participar, conscientemente, da escolha de seus
representantes. Para os cristãos tal escolha deve ser iluminada pela fé e pelo
amor cristão, os quais exigem a universalização do acesso às condições
necessárias para a vida digna de filhos de Deus. Afinal, “ninguém pode
exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem
qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde
das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos
que interessam aos cidadãos... Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem
individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo,
transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por
ela” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 183)”.
“A fé, à
luz dos evangelhos, não deve ser entendida como simples mergulho numa
interioridade mística, em busca de paz individual. Uma experiência cristã
madura impõe o enfrentamento da realidade e sua transformação para que todos
tenham vida em plenitude. O Papa Francisco lembra a importância da participação
política dos cristãos e sua responsabilidade na difícil, porém necessária,
construção de uma sociedade mais justa: “devemos envolver-nos na política, pois
a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum”
(Respostas do Papa Francisco às perguntas dos representantes das escolas dos jesuítas
da Itália e na Albânia, junho de 2013). Segundo o Papa, se a política se tornou
uma coisa “suja” isso se deve ao fato de que “os cristãos se envolveram na
política sem espírito evangélico”. É preciso que o cristão deixe de colocar em
outras pessoas a responsabilidade pela atual situação da sociedade e que cada
um passe a perguntar a si mesmo o que pode fazer para tornar concreta a mudança
que se deseja”.
“Os
períodos eleitorais constituem-se em momento propício à participação dos
cristãos, de quem se espera conscienciosa atuação no processo decisório sobre
aqueles que conduzirão a coisa pública. Mas, não basta o voto. Para além das
urnas, deve-se proceder ao rigoroso acompanhamento do trabalho dos eleitos –
por meio do monitoramento de suas ações, projetos e gastos – exigindo que
exercitem de fato a representação que lhes foi conferida. Todos os cristãos são
convidados a se dedicarem a esta iniciativa. A cada discussão, a cada reunião,
a cada voto consciente, a cada momento em que um cidadão se decide a favor da
honestidade, do bem comum e contra a corrupção aprimora-se, em mútua
cooperação, a democracia”.
“Ao nos
aproximarmos das urnas, devemos ter consciência de que – embora o voto
constitua um momento privilegiado de participação cidadã numa democracia
representativa – está longe de encerrar-se a responsabilidade cristã. A decisão
consciente de votar em candidatos que representem os valores cristãos é um
passo importante, mas não é o único. É preciso que, como cristãos, continuemos
a contribuir para que haja um diálogo que aponte às mudanças necessárias na
consolidação de uma cidadania inclusiva, de modo a garantir que a sociedade
possa participar e exercer democraticamente o poder político”.
“Com o
‘Pensando o Brasil’, a CNBB convoca os cidadãos a se prepararem conscientemente
para o momento da eleição. O eleitor consciente deve conhecer o passado de seu
candidato e averiguar se o discurso e a prática por ele apresentados se
conformam aos valores da ética e do bem comum. É preciso também exercer a missão
profética de todo cristão e manter uma atitude de fiscalização e vigilância.
Diante de irregularidades, é necessário denunciar. O silêncio e a omissão
também são responsáveis pela deterioração da democracia. Por fim, é
indispensável o acompanhamento dos candidatos eleitos e o engajamento em prol
de uma efetiva reforma politica. A fé não pode ser vivida isoladamente, mas em
comunidade e no exercício da caridade. Essa virtude cristã se manifesta,
sobretudo, no zelo pelo próximo, de modo que não sobre na mesa de poucos,
aquilo que falta na mesa de muitos. Daí a necessidade de que todos os cristãos
se empenhem para que efetivem, no País, os valores da igualdade, da dignidade
humana e da justiça social”.
Desejo
que este texto ajude nossos fiéis, na preparação para as próximas eleições. O
texto completo do “Pensado o Brasil” pode ser lido no site da CNBB:
www.cnbb.org.br
Dom
Moacir Silva
Arcebispo
Metropolitano
Julho/2014